terça-feira, 12 de janeiro de 2010



Ok, já contamos aqui que o Civic foi decisivo na formação da Associação Desafio. Que foi um divisor de épocas, ao mostrar e provar que uma abordagem não tradicional poderia trazer resultados na pista. Esses fatos todos aconteceram, e o Civic teve um ano especial em 2006, com muitas vitórias em todos os desafios que encontrou.

Muito do que se sabe hoje dentro da AD sobre o uso de nitro, se baseia na experiência adquirida com as coisas desenvolvidas para o Civic. Conceitos hoje presentes em alguns dos melhores carros da AD , como o peso simulado (onde aumenta o peso sobre a tração sem aumentar o peso do carro) foram postos primeiro em prática no Civic. Testes com dureza de molas e temperatura de pneus ao final da passada, medidas de forma até cômica, lá no final da pista do sambódromo, além de um aprendizado valioso, foram a maneira de se tirar o máximo proveito do equipamento restrito que se tinha em mãos.

Talvez a maior ironia de todas seja que, ao final daquela temporada de 2006, o jogo foi ficando cada vez mais duro, com novos competidores atraídos justamente por aquilo que o Civic representava. E eles, em sua maioria, não vinham da arrancada tradicional, que olhava com uma mistura de espanto, medo e desdém para o que estava acontecendo.

Ali apareceram pela primeira vez carros como o GSX 4x4 dos Irmãos Andreis, o Evo Turbo de Felipe Johanpeter pilotado pelo Menguinho e a Audi 4x4 Turbo dos tradicionais irmãos explicadinhos. A esse pessoal , do lado tradicional, se somaram o Fusca Turbo (a ar) campeão, de André Pinzon e o Gol campeão turbo B do conhecido Pezão e seus burn outs de terceira marcha. O Civic agora lutava contra algo que ele mesmo tinha ajudado a criar, e pelas duas últimas provas do ano no sambódromo, deu para ver que 2007 seria um ano muito mais difícil.

Para completar, devido a desacordos com a Prefeitura de Porto Alegre, o organizador do Metropolitano perdeu o direito de uso do Sambódromo, e todos nós que gostamos de arrancada perdemos um dos melhores palcos para o esporte. Fomos para Tarumã, que é inclinado, em subida na largada e descida na chegada, com asfalto esburacado pelas "cadeiras elétricas" que andam nos aros de ferro sem pneu. Tudo isto só poderia prejudicar muito o Civic, um carro de motor pequeno, com potencia em altas rotações e alto peso de carroceria.

Colocando tudo isso em perspectiva, sabíamos que precisaríamos trabalhar muito e precisaríamos recursos. Para tentar fazer frente a estas novas exigências, T.O Castro fez um acordo operacional com o amigo Julio Steyer. Com ele dividiria a pilotagem do carro e em troca este traria combustível financeiro. Estas parcerias não são fáceis de implementar. O carro que havia sido nitro até ali, tenta um voo mais alto e passa a ser turbo nitro para poder fazer frente ao crescente poderio dos adversários. Desenvolvimento que precisava ser rápido, mas, ao mesmo tempo, o carro deveria ser conduzido por dois pilotos , com estágios completamente distintos de habilidade e conhecimento.

Sendo bastante otimista, dava para se esperar uma chance de sucesso de 50%. De fato, muitos problemas ocorreram. Não por culpa ou reponsabilidade da dupla, mas muito mais pela própria natureza da situação. Por mais que se façam planos, a vida segue seus próprios caminhos.
E justo nesta época, em que as coisas não estavam funcionando direito, Pixulim comprou uma disputa com outro piloto...

É claro que ele sabia dos riscos, ainda mais sendo um Gol representante das categorias tradicionais. Considerou, entretanto, que não poderia fugir à disputa. Com este gesto aparentemente simples, mas tão difícil de se ver acontecer ( a maioria foge, inventa desculpas, tem de ir no enterro da sogra...) T.O. dava mais um passo - hoje facilmente reconhecível - para a instalação da maneira de pensar out law. Para ir mais fundo ainda no "espírito da coisa" apostou 1000 reais! No lado oposto, até "fiadores" apareceram para garantir a disputa - tipo "se o gol perder e não pagar, EU PAGO"...

Este era o clima. Caso típico. Um carro out law (Civic) contra um da arrancada tradicional de categorias (gol). O duelo foi marcado e ocorreria durante uma prova do Arrancada Cup em Santa Cruz do Sul. Independente de qualquer questão, esta é a arrancada de verdade, aquela que vale. A que deixa os protagonistas com o nervos em pedaços. Estão em jogo a honra, o dinheiro e a supremacia técnica, ou ainda outros motivos - se você leitor - quiser juntar aos que foram expostos para ver o sangue ferver.

Na pista, o dia não está bom para Pixulim. O Civic não tinha grandes recursos eletrônicos. Contava com a "caixinha" eletrônica da Unidesign, que era boa, mas não fazia milagres. Definitivamente, o carro não está legal. T. O. altera ponto e mistura e só piora. Decide voltar ao programa anterior gravado para tentar salvar uma puxada. Como se isso não fosse suficiente, a embreagem está acabando!

Assim que Civic vai para a písta, seu adversário alinha ao lado, pois estava observando os percalços do Honda. Ponto para ele, não se desperdiça oportunidades e acho que até esperava uma vitória fácil.Os dois carros alinhados na reta de Santa Cruz. Os 402m pela frente e - coisa curiosa - , começam a aparecer câmeras de todos os lados na mão dos amigos do piloto do gol. Havia mesmo a certeza que o Civic perderia e eles não iam deixar passar. E a verdade inquestionável acabaria na internet.

O pinheirinho é acionado, o Gol faz o melhor tempo de sua existência - seria recorde de sua categoria se não estivesse no horário de treinos. Mas, adivinhem só... ele perdeu! T.O . conseguiu achar uma maneira de arrancar com a embreagem acabando e levar o carro até o final na frente, com o motor patinando em cima da tração. Conseguiu chegar à frente na pista e também no tempo ET, para não deixar dúvidas. Acabou?

Final da reta, os dois carros param no desvio esperando a ordem de retorno aos boxes. Tranquilo, Pixulim desce do Civic com os seus 1000 no bolso ( se perdesse, pagaria na hora) e vai cobrar o piloto do gol. Bate na janela tapada de G5: "toc, toc,toc...nada. " Aí as coisas começam a ficar ridículas e o sujeito não abre a porta. Bom , fiadores são para estes momentos, pensa Tiago. Liga para o fiador cheio de pose e este não atende... Lá pelas tantas, Pixulim abre ele mesmo a porta do gol e cobra o seu dinheiro. Explicações muitas e dinheiro nenhum. O piloto quer acelerar outras vezes. Acho que ele não entendeu o conceito, T.O. não concorda, trato é trato - perdeu, paga. Ao final, o cara diz que não tem o dinheiro.

Pixulim volta ao celular e finalmente encontra o avalista. Este diz que não é bem assim, que vai ver, mas que o dinheiro será pago. Resumindo: até hoje , passados quase três anos, T.O. não viu a cor deste dinheiro, que foi ganho limpa e justamente. E o filme da derrota do Gol nunca apareceu na internet.

Depois desta última façanha, o Civic espera a hora de voltar a pista. 2010 será o ano? Neste momento, o que separa o Civic de seu destino são algumas peças encomendadas e pagas que teimam em não chegar . Na história de autinho com tantos feitos e tanto carisma, certamente este é mais um "detalhe" a superar.

Um abraço a todos aqueles que torcem por nosso retorno.

2 comentários:

  1. E eu sei que o pichulin tinha levado a grana para pagar, porque eu mesmo emprestei R$ 300 para ele inteirar o montante. Ele estava o tempo todo com o dinheiro no bolso para pagar se viesse a perder a aposta.

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