domingo, 6 de dezembro de 2009
O ano era 2006 e já ia pela metade. A novidade em PA era o Metropolitano, um campeonato de arrancada que jogou a pá de cal na era tunning. O Metropolitano mudou o foco de interesse dos carros chamativos para os carros com alma, ou como quiserem, com motor.
O Civic VTi, com seu cabeçote 16v, dutos de grande fluxo e comandos de levante variável já era um ícone popular no cinema. Motor pequeno e potente. Certa vez levamos o VTi do Adriano - que não era mais nenhuma brastemp - no dino do Oscar Leck e ele marcou quase 140cv nas rodas para uma potência declarada de 160 cv no motor pela fábrica. Autinho infernal...
Para comparar, os Audi turbo 180 rendem pouco mais de 120 cv nas rodas com um motor maior e turbo.
Estava aí a base. Para ficar mais de acordo com o propósito, de andar mais que os outros, veio o gás, oxido nitroso. Todos daquela geração viram Velozes e Furiosos e também 60 Segundos. Quando Nicolas Cage aperta o botão - go, babby, go - o Mustang deixa para trás até os helicópteros da polícia. Ninguém acreditou, mas todo mundo curtiu.
O Civic começou com pouco nitro. Foi um tempo de trabalhar e aprender o uso correto do gás, pouco conhecido por aqui. O Civic não tinha uma Fuel Tech e seus recursos de gerenciamento, Para resolver o problema, entrou em cena um dispositivo fabricado pelo Piu da Unidesign de São Paulo. Era uma "caixinha" capaz de controlar o ponto e se sobrepor a injeção original, muito usada para turbinar carros.
Com este recurso à mão, não demorou para surgirem invenções. Um verdadeiro quebra-cabeças eletroeletrônico para poder fazer vários disparos de nitro progressivamente e não apenas toda injeção de uma vez só. Complicado? Sim, Funcionou? Sim. Dor de cabeça? Sim...
Voltando ao Metropolitano, o Arlindo Signori que organizava e era o dono do evento, disponibilizou uma arquibancada sobre o alinhamento. Uma grande ideia, que contribuiu para organizar a fila de carros e criou um jeito muito divertido de assistir as corridas. Como os carros passavam em baixo da arquibancada para alinhar, dava para ver, sentir a vibração, cheirar e principalmente ouvir os motores. Na hora do burn out, dava pra ver os pneus virando fumaça!
Todos que estavam la na época, lembram do locutor do Metro. Do alto do seu instrumento de trabalho (o microfone) ele passava a instrução que nunca esquecerei: " é só um 'burneu' por carro, dois 'burneu' não pode!". Ele tinha também outras pérolas e a mais legal era "com o apoio do nosso patrocinador FUTEC..." em referência à empresa que era uma estrela em ascensão, a Fuel Tech.
Nessa arquibancada, bem ali no que era o centro do nossso mundo naqueles dias, o Civic foi rei. O som da cavalaria de nitro, combinado com a configuração de cabeçote do propulsor japonês foi inesquecível. Apitava como um motor de moto, mas fazia tudo tremer à sua volta - o que o motor da moto não faz!
Foi especialmente inesquecível o dia em que o Civic enfrentou um gol branco ( do Spolier) trazido do interior.
Cena 1 - Enorme caminhão entrando no sambódromo com apenas um carro em cima. O Gol em questão, intimidação total.
Cena 2 - O gol, no boxe, é a soma da tecnologia e conhecimento do motor AP preparado naquele momento e local. Aspiradão a metanol, forjado , 2100, 4 bocas, Fuel tech, ventura virado, blocante e carroceria de gol furgão, muito mais leve. Se algo não está correto nestes dados, devo lembrar que foi a concorrência que nos "vendeu" as informações naquela tarde de domingo.
Cena 3 - Do outro lado, o Civic, motor 1.6, pistão comum, nitrado, pesado e sem blocante.
Cena 4 - Por todo o sambódromo, olhares e mentes vendo e processando. A turma do AP imbatível, os preparadores e suas fórmulas do que pode e não pode, o que funciona e não funciona. Do lado oposto, a gurizada da rua, inexperiente e conhecida pelos mais antigos pejorativamente como "preparados .com", por sua característica de usarem a internet para buscarem aprendizado.
Cena 5 - No alinhamento, a intimidação do burn out. Até hoje, o Pixulin jura que quem estava dentro do Gol era o preparador, o conhecido Nego Nelson. Não há provas disso e assim fica valendo a lembrança do TO Castro. E essa crença fez com que TO se preparasse de uma forma a não aceitar a derrota.
Voltando ao alinhamento, continua a troca de provocações . Os dois "chutam o balde" na regra de só um "burnéo" e dá até pena de ver o Civic fritando um só pneu por não ter blocante. Quando a rotação sobe só se ouve o motor do gol. Isso não é bom, pensamos. Mas quando a sinaleira cai, o Honda "tapa" todo o som ambiente e o dedo no botão impõe uma derrota que cresce metro a metro até a fotocélula. Com fogo saindo do cano a cada troca de marcha.
A arquibancada atrás de mim explode em comemoração. À minha frente, não posso esquecer, o Messias da Oxide nitro - que na época carregava as garrafas do pessoal - arranca a camisa e grita: " toma, toma, fala agora que eu quero ver !"
Drag race de verdade na Porto Alegre de 2006.
Ali nascia a base do nosso outlaw.
Ali a Associação Desafio ganhava força.
Ali o Civic mostrou o caminho.
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dois detalhes...o Gol não era do interior, era de São Leo e o preparador, creio seria o Meco! no mais, a historia é esta mesmo!!!!
ResponderExcluirPô, não sejamos tõ preciosistas! Dá pra considerar São Léo como interior fazendo uma forcinha...
ResponderExcluirSobre o Nelson, ele estava lá mesmo, mas o unico que viu ele dentro do carro foi o Pixulin . Agora vai saber se não era a imaginação dele?
De toda forma, foi muito legal e uma coisa é certa, quem quer que estivesse no gol: os dois estavam ali para vencer, sem pé na fotocélula e outras bobagens como a "chuva de records" da época.